Friday, December 25, 2009

Mensagem de Natal e Ano Novo

Neste dia 25 de dezembro, toda a Cristandade, que permanece viva no espírito dos cristãos autênticos, celebra o Nascimento do Salvador, enquanto seus inimigos, os adoradores do ouro, os fariseus, as forças do Império de Calibã, que não são senão as forças da tirania do dinheiro, da máquina, da técnica e do número, ou, em uma palavra, as forças do Mundo Burguês, comemoram os seus lucros, bem como o fato de seus escravos terem se olvidado por completo do verdadeiro significado do Natal.

Nós, da Frente Integralista Brasileira, temos a honra, a glória e a coragem mental de nos situar entre os primeiros, nos colocando como paladinos da Fé, como bandeirantes da Tradição, como soldados de Deus e da Pátria armados pelo ideal de edificar um Novo Império e um Novo Estado. Este, por nós denominado Estado Integral, é, no dizer de Plínio Salgado, o Estado "que vem de Cristo, inspira-se em Cristo, age por Cristo e vai para Cristo", enquanto aquele, a que podemos denominar Império Integral Cristão, também pode ser definido como o Império que vem do Divino Mestre, inspira-se no Divino Mestre, age pelo Divino Mestre e vai para o Divino Mestre.

Nos colocamos, pois, como Homens de pensamento e de ação contrários a esta civilização inautêntica que aí está, como Homens que permanecem de pé entre as cinzas da Ordem Cristã, das quais esta em breve ressurgirá, qual nova fênix, no esplendor de uma Nova Idade Média, de um Novo Renascimento Cristão e teocêntrico ainda mais glorioso do que aquele do século XIII. Em uma palavra, nos colocamos como transmissores do imenso tesouro espiritual que nos foi transmitido pelos nossos maiores e que um dia será de nossos descendentes.

Assim, desejamos a todos os brasileiros autênticos, fieis às lídimas tradições do Brasil Profundo e conscientes do verdadeiro significado da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, um feliz e santo Natal e um abençoado ano de 2010.

Encerramos estas linhas proclamando a necessidade da recristianização integral do Brasil, que começará na integral reconstrução do Homem em Cristo, e, pois, citando as imorredouras palavras de Plínio Salgado, este magno apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade, em sua obra Primeiro Cristo!:

"Por Cristo-Rei

Seja, pois, a exaltação da realeza de Cristo, o coroamento destas palavras. Eu a proclamo, do fundo da minha pequenez, com o ardor de um soldado. E como soldado vos convido, ó homens do meu tempo, a aclamarmos o Cristo-Rei, por cujo Reino devemos ir à luta, uma luta diferente, porque não seremos portadores de morte, mas de vida; nem de aflições, mas de consolações, nem de crueza, mas de bondade.

E vós – ó Jesus, a quem tanto amamos, e que estais tão abandonado pelas nações no século dos horrores, como vos prefigurou na tábua apocalíptica o pintor neerlandês [Van Aeken, o Bosch] – recebei o nosso preito de soldados fiéis, e socorrei-nos em nossas fraquezas, para que possamos cumprir quanto desejamos, no empenho de vos bem servir; pois incapazes somos nós sem vossa Graça, mas se não faltardes com Ela, ainda que hajamos de cair muitas vezes, outras tantos nos levantaremos, de sorte que, nas horas perigosas, nas horas decisivas e, principalmente, na hora extrema, por vós, sempre por vós, estaremos de pé!"

Por Cristo e Pela Nação!


 

São Paulo, 25 de dezembro de 2009-LXXVII.


 

Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente da Frente Integralista Brasileira.

Monday, December 14, 2009

Estado e Império

Por Victor Emanuel Vilela Barbuy


O Estado é uma unidade política e jurídica estável nos elementos essenciais e dinâmica nos elementos acidentais, resultando da reunião de famílias e de outros Grupos Naturais em um determinado território, onde se constitui uma sociedade independente, que, devidamente regida por uma autoridade suprema, visa a realização do Bem Comum.

Isto posto, insta ressaltar que por Bem Comum compreendemos o conjunto de condições externas necessárias ao desenvolvimento integral da Pessoa Humana e de todos os Grupos Naturais componentes da Sociedade.

O Estado, que não se confunde com a Sociedade, não é um Grupo Natural, mas sim a síntese espontânea dos Grupos Naturais. Ele foi engendrado pela Nação e não o contrário e também não se confunde com esta. Como bem observa Plínio Salgado, o Estado nada mais é que um instrumento jurídico da Nação, destinado a manter a ordem interna e as relações externas, podendo ser reformado pela Nação, que, por sua vez, persiste na inalterabilidade de sua fisiologia, de sua psicologia e de sua vocação histórica [1].

O Estado é um meio e não um fim [2] e existe para servir o Homem e não para violentá-lo, devendo, pois, respeitar os direitos naturais da Pessoa Humana. Como sublinha o criador e principal doutrinador do Integralismo Brasileiro, o Homem, "na tríplice esfera de suas legítimas aspirações materiais, intelectuais e morais, tem, pois, direitos naturais, que lhe são congênitos, decorrentes, não do Estado, mas de sua própria essência e que limitam o poder do Estado". Tais direitos, como, por exemplo, os concernentes à Vida, à Liberdade, à Família, ao Trabalho e à Propriedade dentro dos limites impostos pelo Bem Comum, se constituem em "condições inerentes à natureza humana, em atributos inatos e impostergáveis, que não podem, sem violência, ser negados pela legislação positiva" [3].

No mesmo sentido, preleciona Heraldo Barbuy que o Direito Natural, fundado "no critério moral do justo e do injusto inato na razão humana", não foi fabricado por esta ou pelos juristas e não é imanente, mas sim transcendente, consistindo, com efeito, em "um conjunto de preceitos que devem reger não só o comportamento dos indivíduos, mas também a ação dos Estados" [4].

O Estado Integral, a que Alcebíades (ou Alcibíades) Delamare denomina "Estado Orgânico Integral Cristão" [5], é um Estado-Meio, posto que não constitui um fim em si mesmo, consistindo num instrumento a serviço da Pessoa Humana e do Bem Comum.

O Estado Integral é um Estado Ético, uma vez que é transcendido pela Ética e movido por um ideal ético. Não se confunde, com efeito, com o Estado Ético inspirado em Hegel, Estado que se vê como fonte única da Moral, da Ética e do Direito.

O Estado Integral é o Estado que realiza a síntese entre Autoridade e Liberdade, compreendendo-as não como termos antitéticos, mas sim complementares, e que assegura às associações (corporações e sindicatos) os direitos que lhes competem, delas fazendo a peça mestra do Estado, que, como ressalta Delamare, não tem sobre elas o direito de "precedência, mas tão somente o de preeminência em tudo quanto interessar à ordem social e não atentar contra a liberdade, a dignidade e a inviolabilidade da pessoa humana" [6].

Isto posto, passemos à ideia de Império, que está intimamente ligada à ideia de Estado.

O Império não se edifica sobre fatores de ordem econômico-financeira ou militar, mas sim sobre algo de transcendente. Constitui ele uma síntese alicerçada no Direito Natural Tradicional, no respeito à Pessoa Humana e aos Grupos Naturais e na defesa da Pátria, da Nação e da Tradição.

Em sua obra prima, a Vida de Jesus, onde sintetiza, talvez como ninguém, o significado do Império Romano, Plínio Salgado ensina que o Império "é a confluência de mitos, tradições, artes, espírito militar e consciência humana de todos os povos que viveram e se desenvolveram isolados durante longos séculos" e significa, cada vez mais, "universalidade e humanidade". O Império não é uma Nação, um Povo, uma etnia, um idioma, uma classe dominante, e sim o "espírito de uma política" [7].

Pouco adiante, frisa o autor de Mensagem às pedras do deserto que Roma, para quem não basta tão somente "conquistar, mas adaptar adaptando-se", realiza a "confluência dos povos, a síntese humana", tendo um caráter eminentemente integralizador, como atesta, por exemplo, a existência de legiões de vários povos e etnias, unidas pela idéia que fulgura na ponta de seus gládios, que é a idéia de Império [8].

Ao contrário do que cuidam alguns, incapazes de compreender o verdadeiro significado do nacionalismo, este, devidamente entendido, não exclui a ideia de Império. O verdadeiro nacionalismo, o nacionalismo justo, sadio, equilibrado, ponderado e construtivo, avesso à xenofobia e tendente ao universalismo, é totalmente conciliável com a defesa da Tradição, da Fé e do Império. Prova disto é o fato de que todos os mais notáveis pensadores tradicionalistas lusíadas d'aquém e d'além mar, de António Sardinha a Jackson de Figueiredo, de João Ameal a Plínio Salgado, de Alfredo Pimenta a Gustavo Barroso, de Hipólito Raposo a José Pedro Galvão de Sousa, do Cardeal Cerejeira a Arlindo Veiga dos Santos e de Fernando de Aguiar a Tasso da Silveira, foram todos nacionalistas na acepção autêntica e integral do vocábulo.

Plínio Salgado acreditava, como nós, que o Brasil foi (desde D. João VI), é e será sempre um Império, tanto que afirma, no prefácio à sua Geografia sentimental: "Quero que este livro seja lido pelos moços para que amem o Brasil e compreendam a grandeza deste vasto Império" [9].

No mesmo sentido, pondera Goffredo Telles Junior, um dos mais destacados membros da ínclita geração formada por Plínio Salgado no seio da Ação Integralista Brasileira (AIB), que, caso tomemos o termo "federação" em seu sentido etimológico, chegaremos à conclusão de que o Brasil não é uma federação, mas sim um Império, cujas células políticas são os Municípios, dentro dos quais "os brasileiros tecem sua vida cotidiana" [10].

Aduz o insigne jusfilósofo patrício que, "pela vastidão de seu território, mede oito milhões e meio de metros quadrados, pela unidade de seu povo que fala a mesma língua, tem as mesmas tradições e nutre o mesmo sentimento de amor pela Pátria comum, o Brasil apresenta todos os característicos de um vasto Império" [11].

O artigo 27 do Projeto de uma Constituição realista para o Brasil, também da lavra do autor de O Direito Quântico, dispõe que "o Brasil é um Império", cuja forma de Governo é republicana e que "a grandeza nacional resulta da união perpétua e indissolúvel de suas Províncias e de seus Territórios", sendo que as Províncias e os Territórios se compõem de Municípios, no âmbito dos quais são gerados e se desenvolvem os Grupos Naturais da Sociedade [12].

Neste mesmo diapasão, o jurista João Mendes Júnior, tratando d'A ideia de Império, escrevia, em 1911, que "o Império do Brasil, isto é, a unidade formal da Nação Brasileira, assim evolutivamente nascido da nossa História, em 1808, mantido pela Constituição da Monarquia Constitucional, em 1824, foi indissoluvelmente perpetuado pela Constituição da República Federativa em 1891" [13].

E arrematava o ilustre jurista brasileiro:

"Nós fomos um Império desde a chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro em 1808, continuamos um Império com a denominação de Reino Unido em 1815; proclamamos solenemente a nossa qualidade de Império em 1822 e em 1824 com a Constituição da Monarquia; mantivemos e mantemos a nossa qualidade de Império, em plena República, com a Constituição de 14 de fevereiro de 1891" [14].

A ideia de Império perpassa toda a História do Estado Nacional Brasileiro, como, aliás, perpassa toda a História de Portugal, Nação de que proviemos e de que fomos até 1808 não uma colônia, mas sim uma Província Ultramarina.

Como bem observa Ronaldo Poletti, ainda no tempo de António de Oliveira Salazar, no Estado Corporativo da Constituição de 11 de abril de 1933, sobrevive, em Portugal, a ideia de Império [15]. Em tal período, o último em que Portugal teve consciência de seu destino, bem como de sua vocação e missão, lutando pela dilatação da Fé e do Império, o historiador e doutrinador tradicionalista, patriótico e nacionalista português, João Ameal afirmava que "não há apenas a Nação; há o Império – unidade, também, conjunto intangível, inalienável, nas várias partes do Mundo" [16].

Como ressalta o autor de No limiar da Idade-Nova e de São Tomás de Aquino, a História de Portugal, nos seus primeiros setecentos anos, decorreu à sombra de duas constantes básicas: a Fé Católica e a Realeza paternal. Por ser o português "um povo crente, afeito aos valores do Espírito, que desde o início acolhe com ardor o Verbo de Cristo e aceita depois a missão árdua e gloriosa de o propagar em quatro Continentes" é que o destino português adquire sua projeção ecumênica e os portugueses deixam os seus "passos fundamente gravados na marcha da Civilização" [17].

Toda esta sobre-humana obra de vocação e apostolado só foi possível, porém, porque, logo de início, "os primeiros Reis talham, na carne viva da Península dilacerada por invasões e batalhas, o desenho firme do Portugal que afronta os séculos" e "porque os outros Reis continuam a formar, a defender, a robustecer a Nação, a fundir todas as vontades numa única vontade, que se torna, por fim, vontade de Império
[18]
.

O português foi, na expressão feliz de Gustavo Barroso, um "povo pequenino que foi grande entre os maiores, semente de Impérios e de Civilizações" [19]. Portugal foi, no dizer do autor de Espírito do século XX, "o Gigante que semeou pelo mundo, nas ignotas terras da África, da Ásia, da Oceania e da América, a carne de sua carne, o osso dos seus ossos, no maior esforço de que a história da humanidade tem notícia, para criar uma civilização". Finda esta semeadura a um só tempo "gloriosa e terrível, os vermes das ambições estrangeiras, as sevandijas do negativismo individualista, os urubus das descrenças, dos derrotismos e das ideias dissolventes esbugraram e alimparam os ossos gloriosos" [20].

Basta, porém, que novamente se ouça "no seio da noite o chamamento ancestral, a música de apelo e de saudade da Tradição, a Voz Imortal da Raça, para que de toda a parte onde foram essas sementes de Portugal os homens ressurjam e caminhem, armados de seu ideal, para a união, para a defesa comum da língua e do sentido cristão da sua vida, dos laços seculares que zombaram das distâncias territoriais e oceânicas, para a realização daquele alto sonho que todos nós, homens de boa vontade, sonhamos, o império Atlântico. O gigante reviverá em gigantes!" [21].

O Império do Brasil foi fundado em 1808 pelo então Príncipe Regente D. João, futuro Rei D. João VI e futuro Imperador-Pai do Brasil, que, durante sua estadia na Bahia, esteve em companhia de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu. Este, que acreditava profundamente na ideia de Império e que, em 1823, se referiria ao Brasil como a Roma Americana [22], teria influenciado D. João [23], que, no manifesto de guerra à França Napoleônica, de 1º de maio de 1808, afirmou: "A corte... levantará sua voz, do seio do novo Império que vai criar" [24].

Havendo feito referência a Sua Majestade El-Rei D. João VI, o "primeiro Imperador do Brasil", na expressão de Gustavo Barroso [25], cumpre ressaltar que esse tão grande quanto injustiçado soberano foi um estadista na acepção integral do termo e que, como sublinha Oliveira Lima, se algum monarca mereceu "o ramo de cerejeira com frondescência eterna que, no Nô japonês, o mensageiro celeste traz de parte da divindade para o rei sábio e justo, como emblema e recompensa de suas virtudes, D. João VI foi sem dúvida esse rei" [26].

Todos nós devemos ter firme consciência de que o Brasil, que herdou de Portugal sua vocação e sua missão de dilatação da Fé e do Império, não é somente uma Nação, mas também um Império. O Estado que devemos edificar, o Estado Ético Orgânico Integral Cristão, deverá proclamar que a Terra de Santa Cruz é um Império e será um Estado alicerçado na Vontade de Transcendência
e na Vontade de Império.

O Estado Ético Orgânico Integral Cristão somente será erigido, porém, quando a Nação Brasileira despertar de seu sono e de seu sonho, se erguendo do "berço esplêndido" em que se acha adormecida pela ação nefasta dos inimigos externos e internos, os mesmos que a afastaram dos caminhos da Tradição e das bases morais e éticas de sua formação. Temos o dever de ouvir o apelo de nossos ancestrais e, reevocando a Tradição Imperial Romana e Luso-Brasileira, restaurar a Roma Americana e o Grande Império Cristão Brasileiro, bem como criar a Nova Civilização, a que também podemos denominar Novo Império.


NOTAS:

[1] SALGADO, Plínio. A UNESCO e a debilidade do Mundo atual (Discurso proferido durante a sessão da Câmara dos Deputados de 10 de abril de 1961). In SALGADO, Plínio. Discursos parlamentares; sel. e intr. de Gumercindo Rocha Dorea. Brasília: Câmara dos Deputados, 1982, p. 364.

[2] Neste sentido: TELLES JUNIOR, Goffredo. Justiça e Júri no Estado Moderno. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1938, p. 31; SALGADO, Plínio. Madrugada do Espírito. 4ª ed. In SALGADO, Plínio. Obras Completas. 2ª ed., vol. VII. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 443; ATHAYDE, Tristão de. Política. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1932, p. 77; NOGUEIRA, J. C. Ataliba. O Estado é um meio e não um fim. 1ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1940, p. 113; PAUPÉRIO, A. Machado. Teoria Geral do Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, PP. 68-70; ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Teoria Geral do Estado. 2ª ed., revista e aumentada. São Paulo: Editora Saraiva, 2000, p. 83; AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 38ª ed. São Paulo: Globo, 1988, p. 122; BARBUY, Heraldo. A Família e a Sociedade. In Servir, n° 1297, ano XXVII, São Paulo, 20 de setembro de 1957, p. 77; DELAMARE, Alcebíades. Aos moços universitários. In Enciclopédia do Integralismo, vol. II. Rio de Janeiro: GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 72.

[3] SALGADO, Plínio. Carta de Princípios do Partido de Representação Popular, Edição do Comitê de Propaganda pró Candidatura de Plínio Salgado, 1955, p. 3.

[4] BARBUY, Heraldo. A Ordem Natural. In Ecos Universitários (Órgão Oficial do Centro Acadêmico "Sedes Sapientiae"), ano III, n° 13, São Paulo, setembro de 1950, p. 1.

[5] DELAMARE, Alcebíades. Aos moços universitários. In Enciclopédia do Integralismo, vol. II. Rio de Janeiro: GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 72.

[6] Idem, p 73.

[7] SALGADO, Plínio. Vida de Jesus. 21ª ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978, p. 39.

[8] Idem, pp. 39-40.

[9] SALGADO, Plínio. Geografia sentimental. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1937.

[10] TELLES JUNIOR, Goffredo. A Democracia e o Brasil: Uma Doutrina para a Revolução de Março. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1965, pp. 30-31.

[11] Idem, p. 30.

[12] TELLES JUNIOR, Goffredo. Projeto de uma Constituição realista para o Brasil. In A Democracia e o Brasil, cit., p. 73.

[13] MENDES JÚNIOR, João, apud POLETTI, Ronaldo. A ideia brasileira de Império. In LAFER, Celso e FERRAZ JR., Tércio Sampaio (coords.). Direito, Política, Filosofia, Poesia (Estudos em Homenagem
ao Professor
Miguel Reale
no seu octogésimo aniversário
). São Paulo: Editora Saraiva, 1992, pp. 556-557.

[14] Idem, p. 557.

[15] POLETTI, Ronaldo. A ideia brasileira de Império. In LAFER, Celso e FERRAZ JR., Tércio Sampaio (coords.). Direito,
Política,
Filosofia, Poesia (Estudos em Homenagem
ao Professor
Miguel Reale
no seu octogésimo aniversário
), cit., p. 550.

[16] AMEAL, João. História de Portugal: Das origens até 1940. 3ª ed. Porto: Livraria Tavares Martins, 1949, p. 676.

[17] Idem, p. 685.

[18] Idem, pp. 685-686.

[19] BARROSO, Gustavo. Quinas e castelos. São Paulo: Companhia Editora Panorama, s/d, p. 153.

[20] Idem, p. 160.

[21] Idem, loc. cit.

[22] POLETTI, Ronaldo. A ideia brasileira de Império, cit., 549, nota.

[23] Idem, p. 551.

[24] D JOÃO VI, apud VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. Antes de sua separação e independência de Portugal. 10ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, v. 3, t. 5, p. 90.

[25] BARROSO, Gustavo. Quinas e castelos, cit., p. 171.

[26] LIMA, Oliveira. Formação histórica da nacionalidade brasileira. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2001, p. 226.



Friday, November 27, 2009

Posição da Frente Integralista Brasileira a respeito da crise de Honduras

Nunca antes na História Pátria, o Governo se portou de forma tão contrária às nossas tradições e aos superiores interesses da Nação quanto na atual crise político-institucional enfrentada pela República de Honduras.

José Manuel Zelaya, ex-presidente hondurenho, colocou em marcha um golpe contra a Constituição e as instituições democráticas daquele país ao propor a reforma da Carta Magna, com o claro propósito de se perpetuar no poder, a exemplo de seu mestre, o ditador venezuelano Hugo Chávez, e de outros dois tiranetes: Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador.

José Manuel Zelaya perdeu o cargo por decisão da Justiça hondurenha por violar a Constituição, que, em seu artigo 239, declara que quem pretender introduzir a reeleição perderá o cargo e ficará inabilitado de exercer qualquer função pública por um prazo de dez anos. O artigo 242 da referida Carta Magna determina que, caso não haja vice, o presidente deve ser substituído pelo Parlamento.

Ademais, como observa o jurista Ives Gandra da Silva Martins, em artigo publicado no jornal Carta Forense deste mês de novembro, a "Lei Fundamental" hondurenha determina, em seu artigo 272, que as Forças Armadas devem preservar a Constituição e, no caso de Zelaya, "a pedido tanto do Parlamento quanto do Poder Judiciário, depuseram-no por ter convocado plebiscito para introduzir a reeleição, cuja proibição é cláusula pétrea".

Com efeito, no último dia 26 de junho, o Fiscal Geral da República de Honduras solicitou à Corte Suprema de Justiça uma ordem de captura contra Zelaya, acusado de traição à pátria, conspiração contra a forma de governo, abuso de autoridade e usurpação de função e a referida Corte, considerando procedentes as acusações, determinou a captura de Zelaya. Este, preso aos vinte e oito dias do referido mês, foi expulso do país e então o Congresso Nacional de Honduras, cumprindo a Constituição, empossou Roberto Micheletti como o novo presidente de Honduras, uma vez que o vice-presidente havia renunciado meses antes para ser candidato nas eleições de novembro.

Como sublinha o Professor Ives Gandra no aludido artigo, a democracia hondurenha impõe a alternância de poder, que os candidatos a ditadores como Zelaya não aceitam.

A deposição de Zelaya foi absolutamente constitucional, nada tendo de "golpe", uma vez que este descumprira a Constituição hondurenha, que prevê como pena, em tal caso, justamente a deposição. Foi o que, com efeito, reconheceu o insuspeito Professor Dalmo Dallari em artigo publicado na Folha de São Paulo a 03 de outubro próximo passado.

Havendo retornado a Honduras clandestinamente, certamente com o apoio de Hugo Chávez, José Manuel Zelaya se abrigou, juntamente com dezenas de asseclas seus, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, de que fez seu palanque e quartel general, graças à complacência criminosa do Governo Lula, que não representa o nosso povo nem a nossa Tradição.

Mais do que isto, o atual Governo "Brasileiro", movido por convicções de natureza ideológica, vem defendendo de todas as formas o fracassado golpista Zelaya e sua camarilha, culpada de diversos atentados terroristas que visam desestabilizar o regime democrático hondurenho, ao mesmo tempo em que ataca virulentamente o governo interino, a que qualifica de "golpista". Tal posição é, lamentavelmente, também a da Organização dos Estados Americanos (OEA), que dirigida pelo socialista chileno José Miguel Insulza, defendeu o golpista fracassado e traidor da pátria José Manuel Zelaya e atacou o governo democrático interino de Honduras. Isto poucos meses após haver aprovado o retorno da brutal ditadura castrista de Cuba àquela organização.

A ação do Governo "Brasileiro" viola todas as nossas tradições diplomáticas e mesmo a Constituição Federal de 1988, que proíbe a intervenção em países estrangeiros e sustenta o princípio da livre determinação dos povos. O Barão do Rio Branco, maior diplomata que o Brasil já produziu, deve estar se rolando na tumba por conta da insólita e injustificável posição do Governo em face da crise de Honduras e o mesmo se pode dizer de Rui Barbosa, que, na Conferência de Haia, em 1907, fez triunfar a teoria da força do Direito contra aquela do direito da força.

A ação do Governo "Brasileiro" vai contra todas as nossas tradições cristãs, pacíficas, ordeiras e demófilas e beneficia tão somente aqueles que, vinte anos após a queda do funesto Muro de Berlim, sonham transformar a chamada América Latina em um novo Leste Europeu, implantando aquilo a que Chávez denomina o "socialismo do século XXI".

A Frente Integralista Brasileira (FIB) defende os valores tradicionais consubstanciados no lema "Deus, Pátria e Família", o Estado Ético, a Democracia Integral e a união moral, cultural, política e econômica de todos os povos do Mundo Hispânico, do qual o Brasil, bem como Portugal e as demais nações do Mundo Lusíada, são parte integrante, uma vez que a Hispânia corresponde a toda a chamada Península Ibérica e não apenas à atual Espanha. Por conseguinte, a Frente Integralista Brasileira se proclama contra a tentativa de golpe "esquerdista" de Zelaya, bem como contra todos os golpes que vem sofrendo a nação hondurenha pela nefasta ação de governos, organizações e órgãos da grande mídia internacional, apoiando as próximas eleições naquela pátria irmã e expressando os mais sinceros votos de que ela recupere a paz, a ordem, a prosperidade e o progresso.

Por derradeiro, a Frente Integralista Brasileira roga a Deus, Ser Supremo e Absoluto, princípio e fim último do Homem e dirigente dos destinos dos povos, que não permita o triunfo, em nossa América, dos defensores do nefasto credo do ódio, da violência, da luta de classes e da degeneração moral e social, assim como não permita que este vasto Império Cristão que é a Terra de Santa Cruz-Brasil continue sendo governado por indivíduos que o usam como instrumento de suas espúrias ideologias, o transformando em fonte de injustiças, de desordem e de desagregação.


 

São Paulo do Campo de Piratininga, 27 de novembro de 2009.

Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente da Frente Integralista Brasileira.

Sunday, November 22, 2009

Marx está morto!

Por Victor Emanuel Vilela Barbuy


O século XIX foi o século burguês por excelência. Foi o apogeu desta civilização inautêntica cujo cadáver carregamos hoje e caracterizada pela crença inabalável nos mitos do progresso indefinido [1], do cientificismo, do tecnicismo e do economicismo e por um imperialismo fundado no poderio econômico e militar e justificado pela crença supostamente científica na superioridade irredutível de determinados povos sobre outros.

O século XIX foi marcado, assim como o século que o precedeu, pelo progresso técnico, econômico e científico e pela decadência moral, ética e social; pela absurda ideia de que se constrói o futuro rejeitando o passado e de que o Homem de então era superior a seus antepassados, ideia ainda seguida por aqueles que não percebem que não há verdadeiro progresso sem Tradição e de que não se torna uma Nação maior vilipendiando a memória daqueles que a fundaram.

O século XIX foi o século, por fim, das visões unilaterais do Universo e do Homem; da rejeição de toda ordem transcendente; das legislações inautênticas, avessas aos espíritos nacionais, às constituições não escritas que são as tradições integrais das nações; do destronamento de Cristo e da entronização do dinheiro, do número e da máquina.

Ninguém representa melhor o século XIX do que Karl Marx, o eterno burguês, defensor do materialismo absoluto, que acreditou como poucos nos mitos do cientificismo, do tecnicismo e do progresso indefinido, tudo explicou pelo fator econômico, e foi um homem profundamente racista e etnocêntrico e um apologista do imperialismo, do mesmo imperialismo que seus discípulos, a partir de Lênin, tanto condenariam, a despeito de praticá-lo com impressionante brutalidade.

As concepções de Marx são, como ressalta Giovanni Gentile, concepções rigorosamente econômicas e materialistas para as quais "tudo aquilo que é humano é econômico, e ninguém tem o direito à existência se não é [economicamente] útil" [2], não atentando para o fato de que o fator "econômico não é humanidade, mas instrumento do homem", sendo útil tão somente enquanto serve a este [3]. Com efeito, como aduz Carl Schmitt, em O conceito do político, o sistema marxista é um sistema antes de tudo econômico, intentando pensar economicamente e permanecendo, por conseguinte, "no século XIX, o qual é essencialmente econômico" [4].

Nascido Moses Kiessel Mordechai Levi Marx a 5 de maio de 1818 na bucólica cidade renana de Trier, também conhecida como Trèves, seu nome francês, o futuro criador do socialismo "científico" era descendente, tanto pelo lado materno quanto pelo paterno, de importantes rabinos e talmudistas. Seu pai, o advogado Hirschel Marx, se converteria ao protestantismo, juntamente com toda a família, exceto a esposa, em 1824, mudando o nome para Heinrich em virtude das restrições então impostas aos não protestantes em geral e aos judeus em particular no Estado prussiano. Este, que anexara a católica Renânia após o Congresso de Viena, em 1815, reservava os cargos públicos aos protestantes, sendo que o pai de Marx era advogado do Estado.

Criado na Igreja Evangélica Prussiana, de orientação luterana, e ateu desde a juventude, após uma fase em que aparentou ser um cristão fervoroso, Karl Heinrich Marx, nome que recebeu ao ser batizado, foi, porém, como observa o intelectual anarquista judeu Bernard Lazare, "um talmudista lúcido e claro a quem as minúcias da prática não traziam qualquer embaraço. Um talmudista que se devotou à sociologia e aplicou as suas qualidades de exegeta à crítica da economia política animado pelo antigo materialismo hebraico" [5].

Marx foi o criador de uma ideologia essencialmente burguesa e somente compreensível enquanto fruto da árvore da burguesia, ideologia inautêntica que subsiste graças tão somente a seu caráter religioso [6]. Neste sentido, preleciona Heraldo Barbuy em Marxismo e Religião:

"Dentre as afirmações do marxismo, algumas são inverificáveis; outras, puderam ser confrontadas com a experiência e foram pela experiência refutadas. Mas no marxismo, tanto as proposições inverificáveis, quanto as que foram refutadas pela experiência, funcionam como um sistema religioso. As críticas racionais e a contestação do marxismo pelos fatos, têm sido completamente inúteis em face da eficiência que o sistema tira de seu caráter religioso" [7].

Ao contrário dos sistemas científicos, que perdem a vigência a partir do momento em que deixam de coincidir com a realidade, "os grandes credos coletivos não vivem", como observa o autor de O problema do Ser, "pela força de suas supostas verdades ou erros científicos, e sim pela fé que despertam" [8].

Como diria Guerreiro Ramos, em artigo publicado no Jornal do Brasil a 25 de novembro de 1979, o marxismo é "um culto popular", que "não é teoria nem ciência". O marxismo, afirma o sociólogo baiano, "é a mais influente força obscurantista da história contemporânea, que dificulta o esforço de ordenamento da vida nacional e internacional. Nos chamados regimes socialistas, onde o marxismo prevalece como ortodoxia, reina o obscurantismo e a chatice" [9].

O autoproclamado socialismo "científico", aliás cem vezes mais utópico do que o socialismo a que os marxistas denominam "utópico", é uma religião inautêntica que tem em Marx o seu profeta, em O Capital e no Manifesto Comunista seus livros sagrados, no proletariado seu "povo eleito" e no comunismo seu paraíso.

Também é uma religião o bolchevismo, como, aliás, bem notou Plínio Salgado, que, em O sofrimento universal, sublinhou que a luta que este abrira contra as religiões no país dos sovietes fora "um movimento ao qual podemos denominar sem receio de erro: o grande movimento religioso da Rússia" [10].

O caráter religioso do bolchevismo, ainda mais pronunciado que o do próprio marxismo, se dá sobretudo em razão da influência que este recebeu do espírito profundamente místico da Santa Rússia e de seu povo.

Isto posto, insta ressaltar que o bolchevismo constitui, em diversos aspectos, - como o voluntarismo, o antiimperialismo e a ideia de que o partido comunista se constituiria na vanguarda do proletariado, incapaz de fazer a "revolução" por si próprio - a própria negação das ideias de Marx, um determinista que acreditava que a massa faria a "revolução" por si mesma no momento em que chegasse ao limite a exploração capitalista e, além disso, um defensor do colonialismo. Além do mais, o bolchevismo, ideologia em que se pode sentir algo do cheiro da terra da pátria de Ivã, o Terrível, e de Pedro, o Grande, bem como do sangue e do suor de seu sofrido povo, foi, em diversos momentos, usado como mero instrumento do expansionismo russo, do mesmo expansionismo que Marx – homem profundamente russófobo – tanto temia e condenava. Por ironia do destino, o nome do pensador antipan-eslavista e antitsarista de Trier serviu de bandeira de luta para os tsares vermelhos do Kremlin, que, em nome do socialismo "científico", praticaram a política pan-eslavista e perseguiram o sonho de realizar, por meio da III Internacional, o antigo mito da Terceira Roma.

***

Nietzsche viu no Cristianismo uma religião de escravos alicerçada no ressentimento, na inveja e no ódio por tudo aquilo que é grande e belo. Nós, por nossa vez, consideramos – da mesma forma que Max Scheler [11]– que o magno poeta-filósofo de Assim falava Zaratustra jamais compreendeu o verdadeiro sentido do Cristianismo, que é, com efeito, praticamente o contrário daquilo que julgava ser. Ou melhor, cremos que em certos momentos o profeta do Super-Homem até compreendeu, ainda que não integralmente, a mensagem de Cristo, julgando, porém, que ela houvesse sido deturpada por Paulo, a quem se referia como "o ódio de chandala encarnado, feito gênio, contra Roma, contra 'o mundo'", "o judeu, o eterno judeu par excellence" [12].

Isto posto, afirmamos que tudo aquilo que o autor de O anticristo e de A genealogia da moral escreveu contra o Cristianismo, ou contra aquilo a que denominava "cristianismo de Paulo", cai como uma luva para a fé antinatural criada por Marx, o eterno burguês, que se baseia no ódio de morte a tudo aquilo que é superior e nobre.

Marx e Nietzsche partiram ambos da dialética senhor-escravo. O autor de A ideologia alemã defendeu os escravos e seu modelo de Homem é o homo oeconomicus, o mesmo homo oeconomicus de seus mestres liberais Adam Smith e David Ricardo. Já o autor de Vontade de poder defendeu os senhores e, inspirado no "Único" de Stirner e no "Homem do Futuro" de Wagner, engendrou o Super-Homem, o Além do Homem.

Marx teve o mérito de apontar os erros e mazelas do capitalismo, este desumano sistema que engendrou a luta de classes, mercantilizou a propriedade e dessacralizou o Mundo, o transformando em um vasto mercado dominado pelo poder nefasto do dinheiro e que contém em si os germes da própria destruição. O autor de O Capital diagnosticou bem as doenças do Mundo Contemporâneo, mas o remédio que prescreveu para combatê-las causou mais males à Sociedade do que elas próprias.

Nietzsche, por seu turno, teve o mérito de combater o liberalismo, o coletivismo, o cientificismo, o comodismo e a ditadura do ouro, do número e da máquina, ou, em uma palavra, a civilização burguesa. Errou, porém, ao lutar contra o Cristianismo e divinizar o Homem. O sistema por ele criado é, da mesma forma que o marxista, uma religião: a religião do Super-Homem, do Eterno Retorno, da Vontade de Poder e da transmutação de todos os valores.

Tanto Marx quanto Nietzsche foram homens extremamente egocêntricos. O primeiro foi definido pelo poeta Heinrich Heine como um "deus ateu de si mesmo" [13] e nada é preciso dizer sobre o segundo, autor de Ecce Homo, verdadeiro monumento de egolatria escrito quando já se manifestavam claramente os sinais da demência que o destruiria.

Plínio Salgado, em alusão ao épico germânico medieval Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos), principal das fontes que inspiraram Wagner a compor a monumental Trilogia do Anel, observa que os homens atrofiados de Marx, meras peças da grande máquina da Coletividade, não passam de anões de Nibelungen, ao passo que os homens hipertrofiados e divinizados de Nietzsche não são senão gigantes da montanha. Nós, que partimos de uma visão integral do Universo e do Homem, afirma em seguida o preclaro pensador patrício, "não queremos nem o anão, nem o gigante, mas, apenas, o Homem", "o Homem Integral" [14].

Havendo feito referência a Nietzsche, julgamos oportuno assinalar que foi este um filósofo em toda a extensão de significado que tal termo comporta, ao passo que Marx jamais passou de um pensador medíocre, consideravelmente inferior, por exemplo, a seus rivais "esquerdistas" Proudhon, Bakunin, Dühring, Lassale e Bruno Bauer, sem falar no seu próprio amigo Engels. O autor de O crepúsculo dos ídolos foi, ademais, um grande poeta, sobretudo em prosa, sendo Assim falava Zaratustra certamente o mais belo poema em prosa da Literatura alemã, enquanto o autor da Crítica à Filosofia do Direito de Hegel jamais passou de um poeta fracassado.

Chegou Marx a crer, com efeito, na juventude, que sua tragédia em versos, Oulanen, tornar-se-ia um novo Fausto
[15]. Por essa época, enviou um poema ao Deutscher Musenalmanach (Almanaque Alemão de Musas), de Leipzig, que não o publicou. Resolveu então presentear o pai com toda a sua coleção de versos, mas este não apreciou muito a poesia do filho, afirmando que teria uma grande tristeza caso o visse como um "poetastro qualquer" [16]. Em 1841, dois poemas seus foram publicados no Athenaeum, de Berlim. Selvagens, apocalípticos e repletos de ódio, violência, vontade de destruição e ideias macabras como pactos de suicídio e pactos com o demônio [17], tais poemas, embora carentes de valor literário, têm importância na medida em que neles já estão presentes vários dos princípios do credo marxista.

***

Marx foi um grande plagiário. Quase todos os seus ditos mais célebres foram, com efeito, copiados de outros pensadores. De Marat, tomou as frases "Os trabalhadores não têm pátria" e "Os proletários não têm nada a perder senão suas correntes". De Heine, pegou a frase "A religião é o ópio do povo". De Louis Blanc, proveio a fórmula "De cada um de acordo com suas habilidades, a cada um de acordo com suas necessidades". De Karl Schapper, roubou o lema "Trabalhadores de todo o Mundo, uni-vos!" e de Blanqui a expressão "ditadura do proletariado" [18]. O próprio Manifesto Comunista tem sido apontado, por intelectuais como Enrico Labriola, Georg Brandes, Georges Sorel e Tcherkezichvili, como sendo quase que integralmente um mero plágio do Manifesto Democrático de Victor Considerant, socialista "utópico" francês. Brandes chega a afirmar, aliás, que o Manifesto Comunista é "praticamente uma mera tradução [do manifesto] de Victor Considérant"
[19].

Um dos mais graves defeitos de Marx, herdado, aliás, pela absoluta maioria de seus seguidores, é a mais completa desonestidade intelectual, que não se manifesta tão somente nos plágios, mas também no emprego das citações em seus trabalhos. Citemos as palavras do filósofo alemão Karl Jaspers:

"O estilo dos escritos [de Marx] não é o estilo da investigação, ou seja, a constante evocação das instâncias contrárias, a procura de fatos que falam contra a própria tese; mas esses escritos proclamam, de forma inequívoca, a verdade agora definitiva, e só apresentam o que a confirma. Constituem um pensamento de advogado de defesa e não um pensamento investigador, porém um pensamento de advogado que tem a certeza da verdade perfeita não em bases científicas, mas em virtude de fé" [20].

Em 1885, dois estudiosos de Cambridge produziram um artigo para o Clube Econômico de Cambridge intitulado Comentários sobre o uso dos Livros Azuis por Karl Marx no Capítulo XV de "Le Capital". O texto, produto de um estudo realizado com base na edição francesa revisada de O Capital (1872-75), demonstrou que o referido texto de Marx apresenta um desapreço quase criminoso no uso das fontes", permitindo que consideremos quaisquer "outras partes do trabalho de Marx com suspeição". Foi demonstrado, com efeito, que no capítulo de O Capital em apreço, algumas citações dos Livros Azuis da Biblioteca do Museu Britânico haviam sido "convenientemente reduzidas pela omissão de passagens que poderiam ser levantadas contra as conclusões que Marx tentava estabelecer". Ao mesmo tempo, Marx inseriu "citações fictícias" em sentenças isoladas contidas em diferentes partes de um relatório, e que, para burlar o leitor, eram colocadas "entre aspas invertidas com toda a autoridade das citações dos próprios Livros Azuis" [21].

No discurso inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores, em 1864, Marx adulterou criminosamente um trecho da mensagem orçamentária do Primeiro Ministro Britânico, William Gladstone, de 1863. Gladstone dissera que "veria quase com apreensão e dor este inebriante crescimento da riqueza e do poderio se acreditasse que está circunscrito à classe conservadora. A condição média do trabalhador, temos a felicidade de sabê-lo, melhorou nos últimos vinte anos, em um grau que sabemos extraordinário e que podemos quase qualificar como sem paralelo na história de qualquer país e de qualquer época" [22]. Marx, por seu turno, com a completa desonestidade intelectual que lhe era tão peculiar, fez Gladstone afirmar que "este inebriante crescimento da riqueza e do poderio está totalmente circunscrito à classe conservadora" [23].

A desonestidade intelectual está, contudo, muito longe de ser o único defeito de Marx. O grande deturpador da dialética hegeliana e criador da religião ateia do ódio, da violência e da baixeza moral que é o chamado socialismo "científico" foi um homem profundamente cínico, mesquinho, invejoso, interesseiro, violento, desleal e preguiçoso. Na juventude, teria portado irregularmente armas de duelo e tomado parte em pelo menos um duelo, além de ter passado um dia preso por desordens noturnas e embriaguez [24]. E mesmo com mais de quarenta anos, em 1860, ao se encontrar com Bruno Bauer, em Londres, Marx, após muito beber, pôs-se a atirar pedras nos lampiões, fugindo a toda brida assim que viu a polícia se aproximar [25].

O barbudo burguês de Trier jamais foi um operário ou mesmo pisou em uma fábrica e sempre foi profundamente hostil àqueles que o haviam feito, isto é, aos operários que adquiriam consciência política, em virtude de suas ideias moderadas de como se chegar a uma Sociedade mais justa, totalmente avessas ao extremismo de Marx [26].

Ao contrário do que sustentam diversos inocentes úteis, Marx, que chegou a gastar parte substancial da herança que recebeu do pai armando trabalhadores belgas [27], sempre foi um apologista da violência. No Manifesto Comunista, sustentou que os objetivos dos comunistas "só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente" [28]. No ano seguinte, dirigindo-se ao governo prussiano, disse: "Nós somos impiedosos e não pedimos clemência de vocês. Quando a nossa vez chegar, não disfarçaremos o nosso terrorismo". Em 1850, o Plano de Ação que distribuiu na Alemanha igualmente encorajava o emprego da violência: "Longe de nos opormos aos assim chamados excessos, aqueles exemplos de vingança popular contra indivíduos odiados ou edifícios públicos que adquiriram odiosas memórias, nós devemos não apenas perdoar tais exemplos, mas ainda dar a eles a nossa ajuda" [29]. Mais tarde, em O Capital, defendeu que "a violência é a parteira de toda velha sociedade que está prenhe de uma nova" [30].

Na luta contra os adversários políticos, Marx sempre seguiu o princípio maquiavélico segundo o qual os fins justificariam os meios. Impossibilitado de destruir o prestígio de Bakunin, cuja influência sobre os trabalhadores temia e invejava profundamente, o pensador socialista, com o intuito de desmoralizar publicamente o adversário, acusou, na Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana), o líder anarquista russo de ser um agente secreto da polícia tsarista, dando como fonte documentação que segundo ele estaria em mãos da escritora Amandine Aurore Lucile Dupin, mais conhecida pelo pseudônimo de George Sand. Ao tomar conhecimento da calúnia contra Bakunin, George Sand, indignada, exigiu de Marx imediata retratação e este se justificou afirmando que assim procedia "para defender o movimento socialista dos governos capitalistas" [31].

Com efeito, podemos afirmar, com Paul Johnson, que toda e qualquer coisa que aconteceu na União Soviética sob o regime de Stálin já estava prefigurada quase cem anos antes no comportamento de Marx [32]. Afirmamos, aliás, que a única diferença existente entre o "Guia Genial dos Povos" e o místico ateu de Trier reside no fato de que o primeiro chegou ao poder, se transformando no Tsar ou Cã Vermelho, ao passo que seu mestre jamais chegou sequer perto disso. E a mesma comparação poderíamos fazer entre Marx e Mao Zedong, o "Grande Timoneiro" da "Revolução" (anti)Chinesa, o Imperador Vermelho que fuzilou milhões na "Revolução" (anti)Cultural e matou ainda mais de fome durante o "Grande salto para a frente", que deveria ter se chamado "Grande salto para trás".

Nenhuma vítima de Marx foi, porém, maior do que a própria família. Dos seis filhos que teve com a esposa, Johanna "Jenny" von Westphalen, três morreram ainda na primeira infância, vítimas do estado de penúria a que foram submetidos por conta da leviandade e irresponsabilidade do pai, e dois outros - as filhas Eleanor e Jenny Laura – se suicidaram em 1898 e 1911, respectivamente. A outra filha, a jornalista Jenny Caroline, morrera, ao que parece vítima de câncer, em janeiro de 1883.

O último dos filhos de Marx a morrer foi Frederick "Freddie" Demuth, produto da relação extraconjugal do pensador "alemão" com a criada Helena "Lenschen" Demuth (que nunca recebeu um centavo de Marx) e cuja paternidade fora assumida por Engels para evitar um escândalo. "Freddie", que nasceu em 1851 e faleceu em 1929, só viu Marx uma única vez em sua vida.

***

Em A questão judaica (1844), Marx afirma:

"Qual é o fundamento secular do judaísmo: A necessidade prática, o interesse egoísta.

Qual é o culto secular praticado pelo judeu? A usura. Qual o seu Deus secular? O dinheiro.

Pois bem, a emancipação da usura e do dinheiro, isto é, do judaísmo prático, real, seria a autoemancipação de nossa época.

(...) A emancipação dos judeus é, em última análise, a emancipação da humanidade do judaísmo.

(...) O judeu se emancipou à maneira judaica não só ao apropriar-se do poder do dinheiro como também, porque o dinheiro se converteu, através dele e à sua revelia, numa potência universal, e o espírito prático dos judeus no espírito prático dos povos cristãos. Os judeus se emanciparam na medida em que os cristãos se fizeram judeus.

(...) Qual era o fundamento da religião hebraica? A necessidade prática, o egoísmo.

(...) O Deus da necessidade prática e do egoísmo é o dinheiro.

O dinheiro é o Deus zeloso de Israel, diante do qual não pode prevalecer outro Deus.

(...) O Deus dos judeus se secularizou, converteu-se em Deus universal. A letra de câmbio é o Deus real dos judeus" [33].

O autor dos Manuscritos econômico-filosóficos, porém, jamais pode se emancipar do "Deus zeloso de Israel", que, segundo ele, se converteu, por meio da ação dos judeus, no "Deus universal" da sociedade burguesa. Suas egoísticas cartas à família e a Engels estão repletas, com efeito, de pedidos de dinheiro. Uma delas, escrita a Engels em princípios do ano de 1863, quando este perdeu Mary, sua companheira, quase pôs termo à amizade que unia os dois criadores do socialismo "científico".

Na referida carta, Marx dizia que ficara surpreendido e transtornado com o falecimento de Mary, que lembrava ser uma pessoa muito boa, de "humor sereno" e apegada ao amigo, mas logo em seguida passava egoisticamente a ocupar Engels com suas dificuldades econômicas. E assim concluía a carta: "De certo, sou horrivelmente egoísta contando-lhe minhas dificuldades em tal circunstância. Mas o remédio é homeopático; um mal expulsa o outro. E, afinal de contas, que posso fazer? Não poderia ter morrido, em lugar de tua Mary, minha mãe, que anda mal de saúde e já viveu bastante? Veja, a que pensamentos extravagantes chegam os homens, ditos civilizados, quando são oprimidos por certas circunstâncias" [34].

Engels sentiu-se bastante mal ao ler a carta de Marx, especialmente em virtude de haver recebido, após o falecimento de Mary, a afetuosa solicitude de diversos amigos dos quais não esperava tanto. E assim escreveu a Marx: "Você achou que esse momento era oportuno para fazer prevalecer seu gélido modo de pensar" [35].

Alguns dias mais tarde, Marx escreveu a Engels procurando se justificar e demonstrar arrependimento e então o autor de A origem da família, da propriedade privada e do Estado o perdoou, de modo que as relações entre os dois coautores do Manifesto Comunista voltaram a ser aquelas de sempre [36].

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Foi em nome dos ideais de Karl Marx que uma minoria organizada de agitadores fez a "Revolução" (anti)Russa de 1917, bem como todas as demais "revoluções" ditas socialistas do século XX, responsáveis pelo extermínio de mais de cem milhões de pessoas, vítimas dos fuzilamentos, das torturas, da fome e das doenças provocadas pela miséria.

Fora em nome das ideias de Jean-Jacques Rousseau que outra minoria de agitadores profissionais fizera a "Revolução" (anti)Francesa de 1789, que em poucos anos foi responsável pela execução de dezenas de milhares de pessoas, sem contar as vítimas das guerras civis e da chamada "Guerra Revolucionária", por ela provocadas, enquanto a tão demonizada Inquisição Espanhola em trezentos e trinta anos matou, segundo os mais insuspeitos historiadores, cerca de três mil pessoas.

Além de terem sido os principais inspiradores dos dois mais nefandos levantes contra a Tradição e a Ordem Natural das últimas centúrias, Rousseau e Marx têm mais semelhanças do que se imagina. Como frisa Henri de Man, a influência do autor de Do contrato social sobrevivia em Marx muito mais do que este admitia [37].

Consoante aduz o filósofo russo Nikolai Berdiaeff, "ao mito democrático do povo soberano, criado por Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx opõe o mito socialista do proletariado, classe messiânica, também intérprete da vontade geral, destinada a libertar e a salvar a humanidade". A despeito de se revestir de um caráter "manifestamente mitológico" e de se constituir em uma "sobrevivência inconsciente da visão israelita do povo eleito por Deus", a teoria marxista da luta de classes está um pouco menos distante da realidade do que a teoria de Rousseau, que imagina "uma vontade geral, infalível e soberana do povo na democracia. Esta infalibilidade, Marx transmite-a do povo soberano ao proletariado – mas, em verdade, nem num nem noutro ela existe" [38].

Felizmente, Oswald Spengler está certo: "Há já bastante tempo que Rousseau está esquecido. Marx o será em breve" [39].

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Não podemos encerrar o presente artigo sem abordar, ainda que sucintamente, a questão do racismo de Marx, bem como sua defesa do colonialismo europeu e estadunidense do Norte, produto da visão profundamente eurocêntrica do poeta fracassado de Trier.

A 15 de fevereiro de 1849, Marx publicou, na Neue Rheinische Zeitung, um artigo defendendo a agressão imperialista dos Estados Unidos da América contra o México, enaltecendo os estadunidenses do Norte como representantes da civilização e do progresso e atacando Bakunin, defensor dos mexicanos, por seu sentimento humanitarista. Acentuando o dinamismo da nação da bandeira das treze listras, Marx sustentou que não constituíra nenhum desastre o fato de "a bela Califórnia" haver sido "arrancada das mãos dos preguiçosos mexicanos". "A independência de alguns californianos pode sofrer com isso, a justiça e outros princípios morais podem ser feridos – mas isto conta, diante de tais realidades que são o domínio da história universal?", se indagava o amoral criador do marxismo [40].

Em 25 de junho de 1853, em célebre artigo publicado no New York Daily Tribune, Marx, dentro da visão eurocêntrica que lhe era tão peculiar, atacou virulentamente a cultura, a religião e a estrutura social da Índia, considerada um exemplo sólido daquilo a que denominava "despotismo oriental". O artigo, que trata a rica e profunda civilização indiana como bárbara e selvagem, contém o elogio do colonialismo britânico, "instrumento inconsciente da história" ao provocar a "revolução" que, segundo ele, fizera ruir o edifício da sociedade indiana [41]. Não é necessário dizer que tal juízo estava totalmente equivocado, já que o edifício da sociedade indiana ainda está de pé e a maior parte dos indianos permanece fiel às origens, cultuando os Deuses e cumprindo os deveres inerentes à sua casta de acordo com o Código de Manu.

Em outro artigo publicado no New York Daily Tribune, este a 8 de agosto do mesmo ano, Marx afirmou que a Índia não tinha História. "O que chamamos história não é senão a crônica de invasores sucessivos que fundaram impérios na base dessa sociedade imutável e não resistente". É o Ocidente, para o místico ateu e burguês de Trier, quem deve introduzir a História na Índia [42].

Ora, a sociedade indiana, que nada tem de não resistente, tanto que, invadida por diversos povos, sempre conseguiu se manter fiel às suas tradições, somente não teria História caso a História fosse, como na absurda visão marxista, a história da luta de classes, já que a sociedade indiana, fiel aos preceitos do Hinduísmo, jamais conheceu tal aberração.

Isto posto, não podemos deixar de destacar o nosso integral repúdio à ignorância de Marx em face da civilização indiana, uma das mais antigas e importantes da História, que produziu joias como os Vedas, os Upanishads, os Puranas, o Bhagavad Gita, o Mahabharata e o Código de Manu, sem falar em todas as invenções, incluindo o número zero e os chamados numerais indo-arábicos.

A civilização que Marx mais atacou, porém, não foi a indiana, mas sim a russa, pela qual o falso profeta de Trier alimentava ódio verdadeiramente irracional, que, como frisa Meira Penna, não se encontra somente em sua concepção de um modo de produção particular, o denominado "despotismo oriental", que escaparia totalmente às leis da dialética determinista, dividida em três fases: feudalismo, capitalismo e socialismo. Esse modo de produção tornaria a Rússia, bem como a China, a Índia e outros países, "imune à ação das forças que conduzem, pela própria dialética das 'leis férreas da História', ao triunfo futuro do comunismo" [43].

Para Marx, o russo era "o bárbaro das margens gélidas do Neva" e a Rússia, o "bizantinismo mais terrível e mais bárbaro que há", um país em que, como ressalta em sua propositalmente olvidada obra A questão do Oriente, "por sua tradição, suas instituições e sua situação é semiasiático". A Rússia é, para o intelectual apátrida de Trier, "a barbárie russo-mongol em nome da qual os pan-eslavistas se preparam para sacrificar oito séculos de participação efetiva à civilização" [44].

Em 1848, em artigo publicado na Neue Rheinische Zeitung, Marx pregou a "guerra revolucionária" contra a Rússia, que, segundo ele, deveria "virilizar" o povo alemão e permitir-lhe expandir para o Leste a sua civilização em um sacrifício libertador. "Às frases sentimentais que se nos oferecem em nome das nações contrarrevolucionárias da Europa, respondemos: o ódio aos russos foi e permanece a primeira paixão revolucionária dos alemães... Salvaguardaremos a revolução por um terrorismo decidido em relação a esses povos eslavos". "Sabemos agora", acrescentava ele, "onde estão os inimigos da revolução: na Rússia e nos países eslavos da Áustria" [45].

Nas páginas que escreveu sobre a Rússia, tanto em livros quanto em jornais, Marx sempre atacou virulentamente o país dos tsares, sustentando que este tinha origens bizantinas e tártaras e que estavam em Gêngis Cã e na Horda de Ouro as origens do poder e do expansionismo do Kremlin. Em sua pouco conhecida obra A Rússia e a Europa – Revelações sobre a história diplomática do século XVIII (1857), livro profundamente antirrusso em que defendeu a tese de que a Inglaterra estava por trás da transformação da Rússia em potência mundial, Marx afirma:

"É na lama sangrenta da escravidão mongol e não na rude glória da época normanda que nasceu a Moscóvia, da qual a Rússia moderna é apenas a metamorfose" [46]

Curioso é saber que Marx – que em suas páginas sobre a Rússia, cheias do mais apaixonado ódio e onde sustenta princípios tão estranhos às suas teorias materialistas quanto a defesa da Civilização Ocidental – acreditava fielmente na absurda lenda do testamento de Pedro, o Grande, programa apócrifo que o fundador de São Petersburgo haveria deixado a seus sucessores para a conquista do Mundo [47].

Como dissemos há pouco, o nome de Marx, por ironia do destino, se transformou em bandeira de luta dos seus mais odiados inimigos, justificando a política expansionista russa que ele tanto combatera. Isto se torna, aliás, mais grave caso concordemos com o juízo de alguns no sentido de que a "Revolução" (anti)Russa de 1917 foi o triunfo da Rússia tártara contra a Rússia europeizada, a vingança de Kazan contra a Moscóvia, ou, a exemplo de Spengler, julguemos que na Rússia de 1917 rebentaram duas "revoluções", a "branca" e ocidentalizada e a "de cor", representante do "bolchevismo asiático" e que, sob o regime de Stálin, teria suplantado a primeira [48].

Julgamos oportuno concluir esta breve exposição a respeito do racismo e do eurocentrismo de Marx, citando um trecho de uma das diversas cartas suas que contêm passagens extremamente racistas. Esta carta, escrita a Engels em 30 de julho de 1862, é talvez a mais célebre e reveladora de todas. Nela, se referindo ao líder socialista Ferdinand Lassale, Marx escreveu:

"Está completamente claro para mim agora que ele, como é provado por sua formação cranial e seu nariz, descende de negros do Egito (supondo-se que sua mãe ou avó não tenha cruzado com um negro). Agora esta união de Judaísmo e Germanismo com uma substância negra básica deve produzir um produto peculiar. A impertinência do camarada é também própria de Crioulo" [49].

***

Somos contra Marx porque, assim como Giovanni Gentile, "somos contra o liberalismo que ele combatia, mas de cujo espírito se pode dizer que ele foi o mais franco, o mais lógico representante" [50].

Marx, que, no plano econômico, foi discípulo de Adam Smith, do banqueiro judeu David Ricardo e dos fisiocratas franceses, acreditou combater a burguesia, mas na verdade nunca se libertou do espírito burguês dominante em seu tempo. E, aliás, caso estivesse certa a sua tese no sentido de que "a natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua produção" [51], isto é, da classe social a que pertencem, ele seria burguês, e, por conseguinte, seu ideário seria também burguês.

Marx está morto. O marxismo, religião nascida do liberalismo e da civilização burguesa, fruto do século XIX e somente compreensível enquanto tal, está morto desde que a Humanidade ultrapassou a época do tear mecânico e dos lampiões de gás. É somente em certos países da África e da Ásia e na denominada América Latina que Marx e seu nefando credo ainda são levados a sério pelos intelectuais. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, marco da ruína, na Europa, do sistema que mais matou e oprimiu na História, promovendo a igualdade entre os Homens tão somente na escravidão, ainda carregamos o cadáver putrefato desta ideologia espúria, baseada nos mais baixos instintos do Homem e destinada a permanecer para sempre na latrina da História.

Seremos verdadeiramente grandes apenas quando nos livrarmos de tal cadáver, o que se dará tão somente quando erradicarmos as fontes do marxismo, que são o espírito burguês e o sentimento de revolta dos injustiçados pelos desmandos do desumano sistema capitalista. Seremos verdadeiramente grandes quando fizermos triunfar o Espírito da Nobreza, restaurando o Primado da Tradição e, ao mesmo tempo, substituirmos o atual sistema político, econômico e social por outro mais justo, solidário e fraterno, que sirva à Pessoa Humana e não seja servido por ela.


NOTAS:

[1] Sobre o mito do progresso: BARBUY, Heraldo. O mito do progresso. In BARBUY, Heraldo. O problema do Ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio/ EDUSP, 1984, pp. 101-118.

[2] GENTILE, Giovanni. Economia ed etica. In GENTILE, Giovanni. Memorie italiane e problemi della filosofia della vita. Florença: G. C. Sansoni – Editore, 1936-XIV, p. 285.

[3] Idem, p. 287.

[4] SCHMITT, Carl. O conceito do político - Teoria do partisan. Trad. de Geraldo de Carvalho. 1ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 91.

[5] LAZARE, Bernard. Antisemitism – It's History and Causes. Lincoln: University of Nebraska Press, 1995, p. 157.

[6] Sobre o caráter religioso do marxismo: BARBUY, Heraldo. Marxismo e Religião. 2ª ed. São Paulo: Editora Convívio, 1977; BERDIAEFF, Nicolas. O marxismo e a religião. Prefácio e trad. de Duarte de Montalegre. Coimbra: Mensagem, 1948.

[7] BARBUY, Heraldo. Marxismo e Religião, cit., p. 15.

[8] Idem, loc. cit.

[9] RAMOS, Guerreiro, apud DOREA, Gumercindo Rocha. Posfácio. In SALGADO, Plínio. Manifesto de Outubro de 1932 (Edição do Cinquentenário). São Paulo: Editora Voz do Oeste, 1982, p. 72.

[10] SALGADO, Plínio. O sofrimento universal. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, p. 28.

[11] SCHELER, Max. Das Ressentiment im Aufbau der Moralen. Frankfurt am Main: Klostermann, 1978.

[12] NIETZSCHE, Friedrich. Der Antichrist. In Nietzsche Werke, v. 13.
Ed. por Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Berlim, Nova Iorque: Walter de Gruyter, 1969, p. 244.

[13] Citamos de memória.

[14] SALGADO, Plínio. A Quarta Humanidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1934, p. 109.

[15] , Paul. Intellectuals. Nova Iorque: Harpers Perennial, 1990, p. 54.

[16] CHIERICATI, Cesare. Marx. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1975, p. 7.

[17] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., loc. cit.

[18] Idem, p. 53.

[19] BRANDES, Georg. Ferdinand Lassale. Nova Iorque: Bernard G. Richards, 1925, p. 115.

[20] JASPERS, Karl. Razão e anti-razão em nosso tempo. Trad. de Álvaro Vieira Pinto. Disponível em:

http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/smartsection/item.php?itemid=53. Acesso em 12 de novembro de 2009.

[21] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 67.

[22] GLADSTONE, William, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 66.

[23] MARX, Karl, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 67.

[24] CHIERICATI, Cesare. Marx, cit., p. 7.

[25] Idem, p. 14.

[26] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 60.

[27] Idem, p. 74.

[28] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 5ª ed. Rio de Janeiro: Vitória, 1963, p. 62.

[29] MARX, Karl, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 71.

[30] MARX, Karl. O capital. II vol. São Paulo: Nova Cultural (Col. Os Economistas), 1985, p. 286.

[31] Cf. PONTES, Ipojuca. Sobre a moralidade de Karl Marx. In Jornal da Tarde, São Paulo, 20/10/2001.

[32] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., loc. cit.

[33] MARX, Karl. A questão judaica. Trad. e apres. de Wladimir Gomide. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d, pp. 41-43.

[34] MARX, Karl, apud CHIERICATI, Cesare. Marx, cit., p. 63.

[35] ENGELS, Friedrich, apud CHIERICATI, Cesare. Marx, cit.,loc. cit.

[36] Cf. CHIERICATI, Cesare. Marx, cit.,loc. cit.

[37] MAN, Henri de. Le Socialisme constructif. Trad. francesa de L. C. Herbert. Paris:Éditions Alcan, 1933, p. 43.

[38] BERDIAEFF, Nicolas. Le Christianisme et la lutte des classes.Trad. francesa de I. P. H. M. Paris: Éds. Demais, 1932, pp. 30-31.

[39] SPENGLER, Oswald. La decadencia de Occidente: Bosquejo de una morfología de la Historia Universal. Trad. espanhola de Manuel G. Morente. Buenos Aires, México: Espasa-Calpe Argentina S.A., 1952, Tomo II, p. 588.

[40] Marx, Karl, apud PONTES, Ipojuca. Sobre a moralidade de Karl Marx, cit.

[41] MARX, Karl, apud PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX. 2ª ed. São Paulo: IL/ Nordica, 1994, pp. 191-192

[42] MARX, Karl, apud PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 193.

[43] PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 183.

[44] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 185.

[45] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 187.

[46] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 189.

[47] PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 188.

[48] SPENGLER, Oswald. Anos de decisão. Trad. Herbert Caro. Porto Alegre: Edições Meridiano, 1941, pp. 184-185.

[49] MARX, Karl, apud WHEEN, Francis. Karl Marx. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 58.

[50] GENTILE, Giovanni. Economia ed etica, cit., p. 293.

[51] Citamos de memória.




Wednesday, November 04, 2009

Resposta à Folha de S. Paulo

A Folha de S. Paulo publicou, no último domingo, um artigo que, intitulado Sangue na Praça da Sé e assinado pelo jornalista Mário Magalhães, trata da vergonhosa tocaia de que foram vítimas os militantes integralistas a 07 de outubro de 1934, quando se celebrava o segundo aniversário do chamado Manifesto de Outubro. A divulgação deste Manifesto, redigido por Plínio Salgado, marcara o surgimento oficial da AIB (Ação Integralista Brasileira), que constituiu o primeiro "movimento de massas" do Brasil e, como ressalta Gerardo Mello Mourão, o "mais fascinante grupo da inteligência do País".

O tristemente famoso atentado daquele dia tem sido deturpado pelos arautos do preconceito ideológico, que em geral transformam em "vilões" os integralistas, que nada mais desejavam do que celebrar pacificamente o segundo aniversário da AIB, ao mesmo tempo em que pintam como "heróis" seus covardes agressores, os militantes da "esquerda", adeptos ou simpatizantes do odioso credo de Karl Marx, que já matou mais seres humanos do que qualquer outra das ideologias da História.

Não foi muito diferente o artigo do Sr. Mário Magalhães, repleto de absurdos ataques contra o Integralismo, que preferimos julgar ser produto de ignorância do que de má fé e de que passaremos a cuidar nas próximas linhas.

Ao contrário do que afirma Magalhães, os integralistas jamais representaram a "extrema-direita", mesmo porque o Integralismo, partindo da concepção integral do Universo e do Homem, rejeita as concepções de "esquerda" e de "direita", que remontam à chamada Revolução Francesa e nada mais exprimem nos tempos atuais. Além do mais, ao afirmar que os integralistas defendiam o "nacionalismo renhido", a Igreja e a propriedade privada, o autor se esqueceu de dizer que o nacionalismo integralista é antiimperialista e tendente ao universalismo, que o Integralismo sempre foi um movimento plenamente ecumênico e que jamais deixou de sustentar a necessidade da função social da propriedade.

Ainda ao contrário do que afirma Magalhães, o Integralismo jamais "mimetizou" o fascismo ou o nazismo, tendo diversos pontos de discordância em relação a estes movimentos. O separa do primeiro, sobretudo, sua concepção antitotalitária do Estado, enquanto do segundo se distancia especialmente em virtude de sua oposição ao racismo. Quanto ao uso de uniformes e símbolos, era este comuníssimo naquela época, sendo adotado inclusive por movimentos da chamada "esquerda", tais como a social-democrata Frente de Ferro, da Alemanha, e a União Comunista Leninista da Juventude (Komsomol), da União Soviética.

Isto posto, cumpre ressaltar que Plínio Salgado sempre condenou, no nazismo, as ideias racistas, a inspiração pagã e o culto exacerbado do Führer, como podemos ver em diversos artigos da década de 1930, bem como na célebre Carta de Natal e fim de ano, de 1935. Ademais, houve vários judeus integralistas e Plínio Salgado sempre se opôs ao antissemitismo, como podemos ver, por exemplo, na Carta aos Camisas-Verdes, de 1934.

As declarações de Plínio Salgado após o atentado da Praça da Sé, ressaltando o papel que neste tiveram os judeus, devem ser interpretadas no contexto da época, quando, aliás, a presença judaica era inegavelmente preponderante nos movimentos comunistas em todo o Mundo. Vale lembrar, com efeito, que Winston Churchill, que ninguém associará ao nazismo, salientou o papel dos judeus na chamada Revolução Russa de 1917 de forma análoga à que Plínio Salgado usou para ressaltar o papel dos mesmos na denominada "Batalha da Praça da Sé".

Por fim, cumpre frisar que, ao contrário do que afirma o jornalista, o ilustre Professor Goffredo Telles Junior foi, até o último de seus dias, um partidário do Integralismo, movimento que via como uma forma de "socialismo com Deus", tanto que colaborou até o fim com a Casa de Plínio Salgado, instituição de que tenho a honra de ser o 1° Vice-Presidente, e meses antes de partir para a Milícia do Além, se referiu ao Manifesto de Outubro como "o nosso Manifesto".

Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente da FIB (Frente Integralista Brasileira) e 1° Vice-Presidente da Casa de Plínio Salgado.


Monday, November 02, 2009

A verdadeira Revolução


Por Victor Emanuel Vilela Barbuy

Plínio Salgado, mestre do pensamento tradicionalista, patriótico e nacionalista brasileiro e criador do grande Movimento de Ressurreição Nacional que é o Integralismo, escreve, no prefácio da primeira edição de sua obra Psicologia da Revolução,
que o Homem tem o direito de intervir na marcha da História e quando uma Sociedade está se dissolvendo e um País está na iminência de se desagregar esta intervenção se impõe como um dever [1].
Ora, estando nossa Sociedade inegavelmente à beira da dissolução, consumida pelo materialismo, pelo hedonismo e, enfim, pelo espírito burguês, e estando nosso País, do mesmo modo, a pique de se desagregar, temos o dever inelutável de interferir na marcha da História, restaurando o Primado do Espírito e reconduzindo a Nação às bases morais de sua formação, como sempre defendeu o assinalado pensador e Homem de ação patrício.
A verdadeira Revolução é uma mudança de atitude em face da realidade e dos problemas, que implica na revolta contra a inautenticidade do Mundo Moderno e Contemporâneo e na recondução da Sociedade, nos planos moral e ético, a seu ponto de partida, que está no Mundo da Tradição, o qual não é senão o Mundo regido por princípios que transcendem os sós elementos puramente humanos. Em uma palavra, a Revolução autêntica consiste na recondução da Sociedade à sua Tradição Integral.
Neste mesmo diapasão, pondera Hilaire Belloc, no primeiro capítulo de Danton, que a Revolução é "a reversão para o normal – um repentino e violento retorno às condições que constituem as bases necessárias para a saúde de qualquer comunidade política" [2].
Ainda em tal sentido, preleciona João Ameal que "a verdadeira revolução – a única – só poderá ser aquela que (de acordo com o sentido rigoroso do termo), represente a volta ao ponto de partida, restitua o homem ao seu princípio" [3].
Isto posto, julgamos oportuno transcrever o trecho de nosso artigo a respeito de Julius Evola e o "Tradicionalismo Integral" em que tratamos a respeito do conceito de Revolução:
"Havendo qualificado como revolucionário o pensamento de Evola, julgamos necessário destacar que pelo termo Revolução compreendemos a revolta contra um estado de coisas que traz a ideia de retorno, correspondendo à tradicional concepção astronômica da palavra, segundo a qual esta significa o retorno de um astro ao ponto de partida e o seu moto ordenado em torno de um centro. Este é o sentido que o próprio Evola considera o mais apropriado para tal palavra [4] e é, também, o sentido que preferimos, seguindo o exemplo de João Ameal [5], ilustre pensador tradicionalista e historiador português, e de Plínio Salgado [6], máximo expoente do pensamento tradicionalista no Brasil ao lado de José Pedro Galvão de Sousa, na abalizada opinião de Francisco Elías de Tejada y Spínola [7], mais importante pensador tradicionalista espanhol do século XX" [8].
Tendo consciência de tudo o quanto afirmamos, ressaltamos nossa discordância em face de todos os tradicionalistas que condenam in limine a palavra "Revolução", muitas vezes chegando a demonizá-la, como é o caso de Plínio Correa de Oliveira [9].
Como preleciona Plínio Salgado em magistral artigo publicado em 1935 no jornal A Ofensiva, a "Revolução não é a masorca de soldados amotinados; não é rebelião de camponeses ou proletários; não é movimento armado de burguesias oligárquicas; não é movimento de tropas de governos provinciais; não é golpe de militares; não é a conspirata dos partidos, não é guerra civil generalizada. Revolução é movimento de cultura e de espírito. Transforma-se uma cultura, assume-se nova atitude espiritual, como consequência, abala-se até aos alicerces os velhos costumes, destruindo tudo, para construir de novo, porque destruir apenas não é Revolução" [10] .
Para Plínio Salgado, a Revolução deve ter "as energias sagradas do próprio Espírito da Pátria em rebeldia, em agressividade contra uma civilização que criou a luta de classes, que desorganizou as bases morais das nacionalidades e que nos amarrou, durante cem anos [hoje quase duzentos], como escravos miseráveis, aos pés da mesa onde o capitalismo internacional se banqueteia, surdo ao gemido dos povos" [11].
A verdadeira Revolução não é aquele processo de dessacralização e de destradicionalização da Sociedade iniciado com o denominado Renascimento e a chamada Reforma e reforçado pelas revoluções burguesas de Inglaterra e França e pela revolução "proletária" de 1917, na Rússia, bem como pelos movimentos surgidos após o maio de 1968 em Paris. A verdadeira e necessária Revolução é, sim, a transmutação integral de valores no sentido de destruição dos princípios inautênticos do Mundo Moderno e Contemporâneo e de restauração dos princípios perenes e autênticos da Tradição.
A Revolução sem Tradição não passaria de veleidade estéril, não figurando entre os princípios de nossa Doutrina. Temos firme consciência de que, como sentencia Renan em momento de rara felicidade, "o erro mais deplorável é o de crer que se serve a pátria caluniando aqueles que a fundaram. Todos os séculos de uma nação são as folhas de um mesmo livro. Os verdadeiros homens de progresso são aqueles que têm por ponto de partida um respeito profundo pelo passado" [12].
O objetivo máximo da Revolução é o de resgatar a grandeza do Homem e de conscientizá-lo de que Deus é seu princípio e fim último e de que o verdadeiro sentido da vida humana repousa na busca da santidade. Concordamos, pois, com Plínio Salgado, quando, nas imorredouras páginas de Primeiro, Cristo!, proclama a necessidade imperiosa de "salvação do Mundo pela santificação das almas", afirmando que "não é digno de lutar pelo Cristo quem não erguer a bandeira da própria santificação" [13] .
O homem moderno transformou-se em um desenraizado, não tendo a mínima consciência de onde vem e para onde vai; transformou-se em uma peça de máquina para a qual Deus, a Pátria e a Família estão mortos ou são persistentes resíduos de uma época de ignorância e atraso; transformou-se em um ser inautêntico, crente em superstições tão absurdas quanto a do progresso ilimitado e da liberdade total e incapaz de ouvir a voz da Terra e dos Ancestrais. É este homem que precisa ser resgatado, retransformado em Homem temente a Deus e enraizado em uma Família, uma Pátria, uma Nação, uma Tradição. Em uma palavra, o homem moderno é, como afirma Chesterton, "um viajante que se perdeu na estrada" e que "tem de regressar ao ponto de partida, se quiser se lembrar de onde veio e para onde vai" [14].
Martin Heidegger observa, em entrevista a Der Spiegel, que "tudo o que é essencial e grande surgiu do fato de que o homem tinha uma pátria e estava radicado em uma tradição"
[15]. E, no texto intitulado O caminho do campo, onde evoca, saudoso, passagens da infância e mocidade em Messkirch, Suábia, o filósofo ressalta que o caminho do campo fala somente enquanto os Homens nascidos no ar que os rodeiam forem capazes de escutá-lo. É em vão que o Homem, por meio de planejamentos, busca instaurar uma ordenação no Mundo, se for incapaz de ouvir o chamado do caminho do campo. É perigoso que o homem de nossos tempos já não possa compreender a linguagem de tal caminho, posto que em seus ouvidos retumba o fragor das máquinas, que chega a tomar pela Divina Voz. Assim, o Homem se dispersa, se torna errante. O Simples passa a parecer uniforme e a uniformidade é entediante. O Simples se desvaneceu e sua silenciosa força se esgotou [16].
O número daqueles que ainda conhecem o Simples, o dom da Simplicidade, diminui velozmente. Mas os poucos que ainda o conhecem serão, como sustenta o autor de O ser e o tempo, "em toda a parte, os que permanecem. Graças ao tranquilo poder do caminho do campo, poderão sobreviver um dia às forças gigantescas da energia atômica, que o século e a sutileza do homem engendraram para com ela entravar sua própria obra" [17].
Como afirmamos, o objetivo principal da Revolução é o de devolver ao Homem a sua grandeza. Isto equivale a criar o Homem Novo, o Homem Integral, que, a nosso ver, nada mais seria do que o Homem Tradicional.
Isto posto, cumpre sublinhar que qualquer Ordem Nova será efêmera se não estiver radicada em um Novo Homem. Como diria Plínio Salgado, "de nada valem regimes, reformas constitucionais, medidas legais, planejamentos econômicos, financeiros, administrativos, se não pusermos, na base de tudo, as energias puras da Pátria, representadas pelo Homem Novo" [18]. Em uma palavra, para combater o mal da Sociedade, necessitamos primeiro combater o mal que há em nós mesmos
[19], ou seja, antes de livrar o Mundo da civilização burguesa é mister que nos livremos do burguês que há em cada um de nós, tendo consciência de que o Homem que vence a si mesmo é imensamente mais heróico do que o guerreiro que vence a cem inimigos.
A Revolução Interior, que precede a Revolução das instituições, é uma Revolução antes de tudo moral, que consiste no triunfo do Espírito sobre a tirania da Matéria, razão pela qual também a denominamos Revolução do Espírito.
Como afirmamos há pouco, a Revolução visará, antes de mais nada, a restauração do Homem e se, como aduz João Ameal, o Homem se encontra desfigurado e destruído pelos diversos mitos dos últimos séculos, cumpre, antes de tudo, empreender a reconstrução do Homem [20], título, aliás, de uma das mais fecundas obras de Plínio Salgado [21].
Somente quando o Homem estiver plenamente restaurado é que será possível restaurar, em sua plenitude, a Filosofia Perene da Metafísica, a Doutrina do Direito Natural Tradicional, ou Clássico, a Economia Cristã e a Sociedade Orgânica, regida por um Estado consciente de que se constitui em um mero instrumento a serviço da Pessoa Humana e do Bem Comum, não podendo violentar àquela ou aos Grupos Naturais componentes da Sociedade Integral. Tudo isto com a firme consciência de que o Estado, a Sociedade, o Trabalho e a Economia devem estar a serviço do Homem e não o contrário, como tem lamentavelmente ocorrido nestes tenebrosos tempos do Império de Calibã.
Encerramos estas tão singelas páginas com uma frase do genial compositor e pensador Richard Wagner, mestre do Romantismo Alemão, que devemos fazer também nossa:
"A minha verdadeira missão é semear a revolução por onde quer que eu passe" [22].

NOTAS:
[1] SALGADO, Plínio. Psicologia da Revolução. 6ª ed. In
SALGADO, Plínio. Obras Completas. 2ª ed., vol.7. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p.9.
[2] BELLOC, Hilaire. Danton, a study. Cap. I. Disponível em: http://www.bostonleadershipbuilders.com/belloc/danton/chapter01.htm. Acesso em 22 de outubro de 2009.

[3] AMEAL, João. No limiar da Idade-Nova. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1934, p. 12.
[4] EVOLA, Julius. Introduzione. In GUÉNON, René. La crisi del Mondo Moderno. Trad. italiana e intr. de Julius Evola. Roma: Edizioni Mediteranee, 2003, p. 7.
[5] AMEAL, João. No limiar da Idade-Nova. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1934, pp. 12-14.

[6] Vide SALGADO, Plínio. Psicologia da Revolução. 6ª ed. In SALGADO, Plínio. Obras Completas. 2ª ed., vol. VII. São Paulo: Editora das Américas, 1957.
[7] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na Tradição do Brasil. In Diversos. Plínio Salgado – "In Memoriam", vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985/1986, p. 70.
[8] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Julius Evola e o "Tradicionalismo Integral". Disponível em: http://cristianismopatriotismoenacionalismo.blogspot.com/2009/10/julius-evola-e-o-tradicionalismo.html. Acesso em 23 de outubro de 2009.
[9] Vide OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contra-Revolução. 4ª ed. em português. São Paulo: Artpress, 1998.
[10] SALGADO, Plínio. Revolução Integralista. In SALGADO, Plínio. O pensamento revolucionário de Plínio Salgado (antologia organizada por Augusta Garcia Rocha Dorea). 2ª ed. ampl.
São Paulo: Voz do Oeste, 1988, p. 255.
[11] Idem, p. 256.
[12] RENAN, Ernest. Souvenirs d'enfance et de jeunesse. Paris: Calmann-Lévy, Éditeurs, s/d, p. XXII.
[13] SALGADO, Plínio. Primeiro, Cristo! 4ª ed. In SALGADO, Plínio. Obras completas. 2ª ed., vol VI. São Paulo: Editora das Américas, 1956, pp. 211-212.
[14] CHESTERTON, G. K. The New Jerusalem. Londres: Hodder & Stoughton, 1920, p. I.
[15] HEIDEGGER, Martin. Ormai solo un dio ci si può salvare: Intervista con lo "Spiegel". Trad. italiana de A. Marini. Parma: Guanda, 1987, p. 135.
[16] HEIDEGGER, Martin. O caminho do Campo. Trad. de Ernildo Stein e José Geraldo Nogueira Moutinho. In Cavalo Azul, n. 4, São Paulo, s/d, p. 5. Também disponível em http://caminhodocampo.blogspot.com/2008/03/o-caminho-do-campo-martin-heidegger.html. Último acesso em 23/10/2009.
[17] Idem, loc. cit.
[18] SALGADO, Plínio. Reconstrução do Homem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, s/d, p.184.
[19] SALGADO, Plínio. Primeiro, Cristo! Op. cit., p. 212.
[20] AMEAL, João. Europa e seus fantasmas. Porto: Livraria Tavares Martins, 1945, p. 319.
[21] SALGADO, Plínio. Reconstrução do Homem. Op. cit.
[22]WAGNER, Richard, apud FONSECA, Carlos da. Introdução. In WAGNER, Richard. A arte e a revolução. Trad. portuguesa de José M. Justo. 2ª ed. Lisboa: Edições Antígona, 2000, p. 7.